terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Piano

Dizem que a tua alma é de aço, e realmente é,
Nem por isso sua singeleza é comprometida.
Mas quando queres ser enérgico, agressivo ou mesmo explosivo,
Posso sentir o tremor do teu impero a distancia.
Teu corpo negro e robusto me faz indagar,
Como podes ser tão rude na aparência,
E sussurrar melodias tão doces ao ponto do pranto me levar?
Sentar-se a seu lado é privilégio para poucos, merece respeito,
Só os melhores e mais estudiosos tem esse prazer.
Eu poderia ficar horas só a te observar,
Mas prefiro extrair de ti o que tens de melhor.
Ah! Como é bom poder tocar teu corpo,
Sentir tuas vibrações em minhas mãos,
Perceber o belíssimo timbre da tua voz massagear meus ouvidos.
Oh! Me faz sonhar! Fazei-me viajar,
Leva-me a outros mundos através das obras dos mestres,
Aqueles mesmos mestres que renderam-se ao teu poder,
O poder de encantar e gracejar a todos,
Todos que de ouvidos abertos deixaram tua musica penetrar.
Homens como Chopin dedicaram suas vidas a você,
Mas eu sou apenas um aprendiz, um admirador,
O que posso fazer, é juntar-me a ti
Para que vós, através da tua magnitude
Embeleze minhas humildes inspirações,
Transformando-as em belas canções,
Para que o meu amor possa ouvir.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O Tumitinha e o pé de cachimbo


Como diria o advogado da Suzane von Richthofen, a vida é cheia de mal entendidos. E começa desde cedo. Eu, por exemplo, sempre achei que os cachimbos nasciam em árvores. Não todos, mas pelo menos aqueles cachimbos que os índios usavam em suas cerimônias rituais. Sabe quando os índios chamavam o mocinho do filme para dentro de uma tenda e lá eles fumavam o cachimbo da paz? Então, eu achava que aqueles cachimbos eram uma espécie de fruta, semente ou algo assim. E o porquê dessa minha confusão? Porque eu sempre ouvia aquela historinha “hoje é domingo, pé de cachimbo, o cachimbo é de barro, que bate no jarro”. Entendeu? Eu achava que existia um “pé de cachimbo”, assim como existiam os pés de laranja-lima. Só há alguns meses é que eu me dei conta de que não existia “pé de cachimbo” patavina nenhuma. O que existiam eram os domingos preguiçosos, que “pediam” um cachimbo para relaxar um pouco das agruras da semana. A droga da historinha dizia “hoje é domingo, PEDE cachimbo” e não “PÉ DE cachimbo”. E se você acha que é só comigo que acontecem essas coisas, está muito enganado. Outro dia desses mesmo, uma amiga veio toda triste falar comigo. Era que ela tinha descoberto que o Tumitinha não existia.

- Mas que Tumitinha?

- O Tumitinha. Eu sempre pensava nele como um japonesinho de quem ninguém gostava. O pai dele mesmo, o senhor Tomita, era uma daqueles japoneses bravos, uma espécie de samurai.

- Mas do que é que você está falando?

- Do Tumitinha. Então, um dia, o Tumitinha se apaixonou por uma garota e deu pra ela um anel de presente. Mas o anel se quebrou e a garotinha brigou com o Tuminha só por causa disso, e deixou o Tumitinha sozinho, sem amor nenhum. Entendeu?

- Não entendi é nada.

- Aquela música, “Ciranda Cirandinha”, sabe?

- Sei.

- Então, sabe aquela segunda parte? A do anel?

- Hum... “O anel que tu me deste...”

- Isso, isso! Então, eu sempre cantava essa parte da música assim: “O anel que tu me deste era vidro e se quebrou, o amor do Tumitinha era pouco e se acabou”. E eu ficava com um dó do Tumitinha, coitado, o pai não gostava dele, a namorada não gostava dele...

- Mas não tem Tumitinha nenhum! É “o amor que TU me tinha”!

- Pois é isso mesmo que eu estou falando. Descobri hoje. Coitado do Tumitinha. Além de ninguém gostar dele, ainda por cima ele nem existia. Não é mesmo de deixar a gente arrasada?


Arthur Carvalho...shahsu..ilário!

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Que a saudade não desvanece...


"Tudo o que se sobressai da utopia que advogo
Não é mais do que um substrato do tempo que vivi,
Como a lágrima vertida na atmosfera onde vogo
Não é mais do que um piano pungente que tange por ti…

E as mãos que, na solidão, se intimidam,
Que se desertificam aquando o tempo evanesce
Não são mais do que as palavras nunca antes ditas
E veladas num âmago isolado que entorpece…

Por isso, vem… que a saudade não desvanece…
Vem… que o tempo permanece…
E prende-me em ti…

Tudo o que se ocultava no silêncio temível
Não era mais do que a soturna certeza
Que teimava em calcular pela matemática falível
Nos teoremas esotéricos da imensurável natureza.

E se, novamente, me vires assim, imerso no pensamento,
Pensa que emergi do livro do cepticismo filosófico
Escrito pelas mãos da poesia na candura do tempo
E do exagero desenfreado de um amor platónico.

Por isso, vem… que a saudade não desvanece…
Vem… que o tempo permanece…
E prende-me em ti…"

João Garcia Barreto

Qualquer coisa...

"Começa a haver meia-noite, e a haver sossego,
Por toda a parte das coisas sobrepostas,
Os andares vários da acumulação da vida...
Calaram o piano no terceiro andar...
Não oiço já passos no segundo andar...
No rés-do-chão o rádio está em silêncio...
Vai tudo dormir...
Fico sozinho com o universo inteiro.
Não quero ir à janela:
Se eu olhar, que de estrelas!
Que grandes silêncios maiores há no alto!
Que céu anticitadino! — Antes, recluso,
Num desejo de não ser recluso,
Escuto ansiosamente os ruídos da rua...
Um automóvel — demasiado rápido! —
Os duplos passos em conversa falam-me...
O som de um portão que se fecha brusco dói-me...
Vai tudo dormir...
Só eu velo, sonolentamente escutando,
Esperando
Qualquer coisa antes que durma...
Qualquer coisa."


Álvaro de Campos

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Se sinto de mais ou de menos


"Não sei sentir, não sei ser humano, não sei conviver de dentro da alma triste, com os homens, meus irmãos na terra. Não sei ser útil, mesmo sentindo ser prático, quotidiano, nítido. Vi todas as coisas e maravilhei-me de tudo. Mas tudo ou sobrou ou foi pouco, não sei qual, e eu sofri. Eu vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos. E fiquei triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse. Amei e odiei como toda gente. Mas para toda gente isso foi normal e instintivo. Para mim sempre foi a excepção, o choque, a válvula, o espasmo. Não sei se a vida é pouca ou demais para mim. Não sei se sinto demais ou de menos. Seja como for a vida, de tão interessante que é a todos os momentos, a vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger, a dar vontade de dar pulos, de ficar no chão, de sair para fora de todas as casas, de todas as lógicas, de todas as sacadas e ir ser sevalgem entre árvores e esquecimentos."

Álvaro de campos


"estou escondido na cor amarga do fim da tarde. sou castanho e verde no campo onde um pássaro caiu. sinto a terra e orgulho por ter enlouquecido. produzo o corpo por dentro e sou igual ao que vejo. suspiro e levanto vento nas folhas e frio e eco. peço às nuvens para crescer. passe o sol por cima dos meus olhos no momento em que o outono segue à roda do meu tronco e, assim que me sinta queimado, leve-me o sol as cores e reste apenas o odor intenso e o suave jeito dos ninhos ao relento"

Valter Hugo Mãe

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Nossa verdadeira situação diante do mundo!


Como temos vivido neste mundo caído? Vivemos como muitos, que nem enxergam o horizonte, pois estão cheio de orgulho e o próprio umbigo os impedem de ver. Estamos em um mundo imenso, contudo em um mundo tão isolado, pois criamos o próprio mundo, achamos que nossos problemas são os maiores, que a nossa situação esta precária, ou estamos tão bem que nada importa o que acontece com os outros. A cada dia a tecnologia avança, a criança que brincava de ping pong, bolinha de gud, casinha, se sujava com a areia, agora ficam entretidas com seu video game de última geração, computadores de alta tecnologia, televisor de plasma e estão cada vez mais se transformando em pessoas isoladas e cheio de si. Quantas e tantas crianças dariam tudo, não pra ter um video game de última geração, claro que se o tivesse ficaria extremamente feliz, mas não, elas dariam tudo pra ter talvez um pacote de trakinas, um beijo, uma pulseirinha de miçangas, atenção aos que rodeiam....e nós tão egoístas em nosso mundo que nos esquecemos da verdadeira essência. Infelizmente a sociedade tem se tornado máquinas de consumo, a beleza da simplicidade cada vez mais é consumida pelo egocentrismo, orgulho, arrogância, status, poder, autoritarismo, ganância, riquezas e o que mais me dói é que tudo isso sufoca aquilo que realmente é mais importante o AMOR. Pensamos em tantas coisas, fazer, finalizar, executar, todavia nos esquecemos que não vivemos em um mundo de máquinas, robôs, mas vivemos em mundo de gente SER HUMANO, com sentimentos. Cada vez mais a sociedade tem exigido um homem perfeito, como aqueles super-heróis de contos, contudo somos sujeitos a erros, falhas, somos imperfeitos, fáliveis. E o homem por muita das vezes tem buscado essa perfeição se auto-negando, e com isso se deixando ser controlado pelos outros. À sua aprovação já não depende mais de si próprio, e quanto mais ele busca essa perfeição para que seja aceito nessa sociedade mais ele se frusta, se definha, se auto-flagela, e o reflexo disso são as diversas doenças do pânico, ansiedade, medo, insegurança e depressão. E quando isso acontece, quanto mais queremos ser aceitos, mais nos esquecemos das nossas potencialidades e da nossa própria verdade, e o que verdadeiramente somos. Como Augusto Cury diz em um de seus livros, de autor passamos a ser protagonistas. Que possamos refletir um pouco mais, que não continuemos sendo manipulados, exercendo papel de vítimas, mas que venhamos olhar para as nossas próprias verdades, e ser o autor das nossas vidas.

Tati.


quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Tempo



A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

Mário Quintana


Vivemos na maldita mania de deixarmos tudo para amanhã, e nos esquecemos que cada minuto é valioso.
Faça agora:
Não deixe para dar um elogio a pessoa que ama, ame quanto puder.
Não deixe de dar gargalhadas com vergonha de te acharem louco, ria, pule, brinque .
Não deixe de dar um abraço em seus pais e dizer que eles são mais que importantes.
Não deixe de assistir aquele filme debaixo do cobertor, e com direito a pipocas.
Não deixe para amanhã aquela receita nova.
Não deixe para amanhã o perdão.
Enfim...não deixe de sonhar, de viver, curta a cada minuto e seja feliz!
O tempo são como folhas ressequidas, irretornáveis ao seu lugar.

Às vezes oportunidades vão e vem, porém o tempo não volta atrás!

Tati.



terça-feira, 7 de outubro de 2008

Um tempo pra mim




Esta noite o que eu quero é não ter mais compromisso
Quero deixar pra depois o que não tem urgência
E como tudo pode esperar, essa noite quero deixar tudo pra depois.

Quero me livrar das meias, da calça, e dos calçados.
Quero iluminar meus olhos com o reflexo das imagens retidas
E filtrá-las no foco exato da emoção.
Quero ter olhos apenas voltado pra vida
E descansar a vista de qualquer outra visão.

Quero libertar meus passos a tal ponto
Que possa livremente caminhar pra dentro de mim.
Quero jogar fora agenda
E deixar de ser refém de quem nunca me diz que sim.
Vou dar uma pausa pro mundo
E ter um tempo pra mim.

Esta noite, quero me afastar de minhas verdades,
Porque elas também não me convencem mais.
Quero rimar bêbado com anjo,
Campo com cidade,
Guerra com paz,
Perdão com castigo,
Faca com rosa,
Lar com mendigo,
Mel com cuspe
Eu comigo
E seguir as pistas da felicidade

Essa noite,`tô´ em conflito com a guerra
E tão mansamente que nem a guerra vai ficar sabendo.

Essa noite, vou puxar assunto com a lua
Vou fazer de conta que cansei
E quando tudo acreditar em meu cansaço
Vou fazer de conta que durmo
Como se de fato cansasse
Pra dar um enorme flagrante na brisa
E surpreendê-la quando ela entrar para acariciar cocégas em minhas faces.

Há de ser assim...

Essa noite, pra ser sincero, nem vou acender as luzes
Com preguiça de apagá-las depois
E na penumbra dessa noite, pelas janelas e pelo vão da porta,
É possível que entre quem, às vezes quero,- e nem sempre tenho;
Quem, às vezes tenho e nem sempre valorizo
Quem, às vezes, apóio - e nem sempre acredito;
Quem, às vezes, acredito - e nem sempre merece;
Quem, às vezes, merece - e nem sempre permito;
Quem, às vezes permito - e nem sempre admiro;
Quem, às vezes, admiro - e nem sempre corresponde;
Quem, às vezes corresponde - e nem sempre percebo;
Quem, às vezes percebo - e nem sempre conquisto
Quem, às vezes conquisto - e nem sempre mantenho;
Quem, às vezes tenho - e nem sempre amo;
Quem, às vezes amo - e por isso peerdôo;
E quem me perdoe - eu merecendo ou não...

Essa noite vou me permitir a máxima rebeldia
E que um novo eu me traga um outro eu tão firme,
Tão mais que eu seja pleno de ousadia
A ponto de fazer-me novo e descobrir-me
Durante essa noite, mesmo que o bicho papão fique rondando minha rede,
Vou fazer de conta que mamãe mentia...

Durante essa noite, vou trocar-me por inteiro,
Vou ser mais coragem, vou ser menos medo;
Vou dar um sol, presentear-me por um dia
E sair pra vida amanhã logo cedo.

Éver Silva